Foi na última semana,
quando uma amiga me enviou uma foto de seu quintal de permacultura, e com
orgulho ela escreveu: "Olha estou reciclando garrafas de PET, utilizando
no viveiro para as minhas plantinhas." A minha amiga se acha
ecologicamente correta e consciente, mas sem querer ela entrou na armadilha da
grande indústria do plástico e do petróleo.
Por anos, incontáveis
de workshop de reciclagem ensinaram aos brasileiros, criancinhas, adultos,
idosos, donas de casa, comunidades carentes e povos indígenas, a maravilha de
“reciclar” garrafas PET. As garrafas de PET usadas passam então a servirem para
várias coisas. Vasos para plantas, brinquedos, bijuterias, árvores de Natal, móveis
ou qualquer coisa inimaginável. Paralelo a isso, foi criado um mercado de
roupas com malha PET, identificada como ecologicamente correta. Camisas
caríssimas porque salvam o Planeta, diz a propaganda.
Uma mentira que só
virou verdade nesta sociedade do século 21, porque foram repetidas milhares
vezes. A realidade é essa: O uso de uma garrafa PET velha no seu quintal ou em
forma de roupa, ou como um “telhado verde”, não é reciclagem e nem preserva o
meio ambiente. Reciclagem é quando uma garrafa PET velha vira uma garrafa PET
nova, como é feito com as garrafas de vidro. Só assim o uso da matéria prima, o
petróleo, e o gasto de energia estarão reduzidos. Mas o que acontece com a PET,
na realidade, é o contrário disso. A garrafa PET na prática mundial não vira
uma nova garrafa PET. A garrafa velha vira um outro produto, um processo que
internacionalmente recebeu o nome “Downcycling”.
Ao contrário do vidro,
a PET não pode ser reutilizada na linha de produção original e o seu processo
de reciclagem de verdade é ainda caro e complicado. Por isso a indústria de
embalagens prefere utilizar matéria prima para seus produtos e inventou a
propaganda da PET-Recicling.
Novos mercados para o
lixo de PET foram criados que de fato estão estimulando a produção de novas garrafas
PET à base da matéria prima petróleo. Por exemplo, o novo mercado de
Eco-Camisas, Eco-Bolsas ou Eco-mochilas de PET, precisa de produção de novas
garrafas de PET à base da matéria prima. E isto é um ato contra a
sustentabilidade, contra o meu ambiente e contra a nossa própria saúde.
Pior: ao contrário das fadas da propaganda da indústria química, a
produção de PET nem é fácil ou limpa. Além do uso de petróleo, também várias
substâncias tóxicas são necessárias ou são criadas durante o processo. Por exemplo,
a indústria está usando trióxido de antimônio no processo de fazer PET. Mas
antimônio é um metal pesado venenoso e pode criar câncer. “A Agência
Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) .
classifica o trióxido
de antimônio no Grupo 2B – possivelmente carcinogênico para o ser humano.”
A substância orgânica Bisfenol-A (BPA) é
um outro grande vilão na produção de garrafas de plástico e de outras
embalagens. Esta substância de fórmula (CH3)2C(C6H4OH)2 é um estrogênio
sintético e pode causar câncer e infertilidade. Já foi provado há anos que o
Bisfenol-A pode contaminar os líquidos dentro das garrafas de PET ou de outros
plásticos.
Quem compra garrafas
de PET e as usam no seu quintal como um viveiro ou quem cria um sofá de PET ou
bijuterias, também está responsável pela continuidade do uso do petróleo, pela
mineração de antimônio e seus efeitos danificadores e pela contaminação do meio
ambiente com substâncias tóxicas e cancerígenas.
O mundo não precisa de
garrafas, camisas ou viveiros de PET. Vidro é o melhor material para guardar
qualquer bebida, inclusive a água. As garrafas de vidro podem ser reutilizadas
centenas de vezes. E o material de vidro pode ser reciclado sem fim. O próprio vidro
é a melhor matéria prima para fazer vidro.
Fonte: EcoDebate.
Norbert
Suchanek
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