* Do tempo realizado e do tempo sonhado *

24 de out. de 2012



Volta e meia acontece comigo.  Sabe quando alguém fala a respeito de algo:

¨Ah... essa praia já foi boa! Quando o mar era mais limpo, tinha umas palmeiras lindas ali¨.... Ou:
¨Ah, nessa Universidade os professores eram incríveis! As aulas eram animadas, tinha festival de musica e tudo!   Ou:
¨ Fulano era um charme! Combinaria tanto com você!  Pena que vocês não se conheceram antes dele se casar ¨.
¨Copacabana era maravilhosa nos anos 50, anos dourados... Ipanema nos anos 60...

Costumo ter a sensação de estar sempre chegando atrasada na vida dos lugares, das cidades e das pessoas.
Talvez por isso goste tanto de morar em Curitiba. Aqui fui amiga do rei. 
Conheci Curitiba no início de sua efervescência cultural, do seu auge arquitetônico e ecológico; peguei os invernos mais frios ; assisti os melhores filmes no Condor, no Lido I e II, no Groff e no Luz. Ah que saudades dos cinemas de rua, onde a fila se estendia pela calçada.
Isso sem contar as livrarias da rua XV, onde sentávamos para tomar um café com um pãozinho de queijo quentinho enquanto folheávamos os livros.  
Tantas vezes caminhei com os amigos Luís e a Carol nas noites frias de inverno na Rua das Flores, em meio à iluminação de acrílico roxo, com direito à neblina, luva de lã e fumacinha saindo da boca. De madrugada, voltando da ¨night¨, irmos ao Billy para comermos um  ¨macaquito¨: pão de hamburguer enorme e mais que especial, queijo derretido, banana assada e goiabada, tudo quentíssimo para rebater o frio. 
Assistir aos shows de verão na Pedreira, ir naquele barzinho do Bosque do Papa com mesas espalhadas pela grama, onde se podia ouvir desde Rock à Bossa Nova.  Freqüentar todos os ¨points¨.  
Assisti os natais mais bonitos da minha vida, onde a cidade se transformava em um espetáculo de beleza, com muitas ruas inteiras de árvores e casas iluminadas e enfeitadas que mais pareciam um sonho. Algumas ficavam até abertas à visitação.
Estacionar o carro em qualquer lugar e andar sem medo com os vidros abertos.
Ir ao Bar da Classe, onde artistas, intelectuais, gente interessante e famílias se misturavam em um ambiente surreal sempre de festa e descontração. Ir ao Trem azul, ao Camarim e, se estivesse com sorte, encontrar com o Paulo Leminski e trocar ideia sobre a noite, a vida e a dor dos poetas.


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