* Do tempo realizado e do tempo sonhado *

7 de mar. de 2014

O último pedaço

Não sei se vocês também têm essa percepção ou se é coisa de gente meio doida como eu. Eu sei exatamente o momento que acaba qualquer coisa que eu esteja saboreando.

Quando estou comendo um chocolate, um biscoito, um saco de amendoins, pipoca, balas, etc, eu sei exatamente quando acaba.
Aí vocês vão pensar que sou doida mesmo porque todo mundo sabe quando acaba o que está comendo, é só olhar para o prato.  E eu respondo: Nem sempre.  
Digamos, por exemplo, que você está assistindo televisão no escuro, comendo uma barra de chocolate sem o papel:  eu sei, ou melhor, minha boca sabe quando chego ao último pedaço, mesmo sem vê-lo. Podem me vendar os olhos que minha boca sabe.   Minha boca deve ter algum sensor de últimos pedaços ligado ao cérebro.  
O último pedaço tem um sabor especial; talvez até todas as últimas coisas que fazemos tenham este mesmo sabor diferenciado e nós não nos damos conta:
O último beijo, o último gole de refrigerante, o último degrau, o último papel de um bloco de notas, a última briga ou a última transa com um namorado...  Não, a última transa, quando a gente ainda sente atração e sabe que será a última, tem sim, claramente um sabor diferenciado.
(Opa, eu estava falando de chocolate, de doces, não vamos entrar no campo sexual senão posso me confundir).
É um sensor, sem dúvida, que deve dar um choquinho no cérebro.
Resolvi contar isso aqui porque essa semana mesmo estava deitada assistindo um filme e comendo chocolate. Comendo pedacinho por pedacinho. De repente cadê o chocolate? Acabou. Acabou? Minha boca me dizia que não havia acabado e fui tateando o lençol em busca do último pedaço e não achei.
Olhei, tateei e nada. Pensei comigo mesma sem muita certeza: Que pena, acabou e eu nem saboreei o último.   
De um jeito desconfortável me conformei. No dia seguinte, quando levantei da cama, lá estava o último pedacinho no chão.  
Olhei e pensei: Eu sabia que não tinha acabado!

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